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A hemorragia
subaracnóidea aneurismática persiste com alta morbimortalidade, a despeito dos
avanços recentes no manejo intensivo do paciente neurocirúrgico. A
mortalidade inicial chega a 50% dos casos, além
de haver morbidade significativa. A facilidade no acesso e a baixa morbidade de
exames não invasivos, como angiorressonância e ângio-TC, vem aumentando
sobremaneira o diagnóstico de aneurismas cerebrais não rotos.
Nesse contexto, um
melhor conhecimento da real incidência e história natural dos aneurismas
cerebrais é essencial na definição do momento cirúrgico mais adequado para
evitar a hemorragia sem acrescentar riscos
inaceitáveis.
O maior estudo multicêntrico realizado até o momento para a análise dos aneurismas cerebrais não rotos, o ISUIA (International Study ofUnruptured Intracranial Aneurysms), foi designado para tentar caracterizar a história natural dessas lesões. O estudo foi composto de uma coorte e retrospectiva que mostrou que, em pessoas sem história prévia de hemorragia subaracnóidea, aneurismas menores que 1 cm tinham risco anual de ruptura de 0,05% ao ano. Aneurismas maiores que 1 cm tinham risco de 1% ao ano. Os autores concluíram que os aneurismas cerebrais tinham um curso mais benigno do que se pensava à época. O braço prospectivo do estudo foi publicado em 2003. Os autores concluem que aneurismas não rotos menores que 7 mm em pacientes sem relato de hemorragia subaracnóidea prévia possuem risco de ruptura anual menor que 0,05%, não comportando tratamento cirúrgico. Aneurismas maiores que 7 mm, história prévia de hemorragia subaracnóidea e aneurismas sintomáticos são indicações para tratamento cirúrgico. Quanto à localização do aneurisma, foi demonstrado que lesões de comunicante posterior e circulação posterior têm um risco de ruptura anual e em 5 anos maior que os aneurismas de carótida interna, comunicante anterior e cerebral média.
Em 2012, foi
publicado o estudo UCAS, que analisou prospectivamente 6.697
aneurismas não rotos em 5.720 pacientes japoneses. Deles, 1.930 aneurismas
foram acompanhados sem cirurgia por 1Oanos e 111 apresentaram hemorragia, 3.050
foram operados, 131 faleceram de causas não relacionadas e em 1.475
houve perda do seguimento. Dos pacientes que sofreram hemorragia por
ruptura aneurismática, 35% faleceram e 29% permaneceram com sequelas
moderadas e graves. Apenas 36% tiveram boa recuperação. Ao contrário
dos achados do ISUIA, aneurismas de comunicante anterior apresentaram o
maior risco de ruptura seguido de carótida interna/comunicante posterior e
topo de basilar. Foram também indicados como fatores de risco
de ruptura o sexo feminino, idade maior ou igual a 70 anos e presença
de dilatação no fundo do aneurisma. Porém, esses achados e os de
localização não alcançaram significância estatística quanto ao risco de ruptura
(P >0,01). Quanto ao tamanho dos aneurismas, houve
maior risco de ruptura, crescendo progressivamente e com significância
estatística a partir de 7 mm. O risco anual de ruptura de aneurismas menores
que 5 mm foi de 0,36%, semelhante aos 0,34% encontrados no
ISUIA. De acordo com o UCAS, aneurismas
cerebrais maiores que 7 mm localizados na comunicante anterior, comunicante
posterior e carótida interna e que têm uma dilatação no fundo são mais
propensos á ruptura.
O estudo UCAS tem como limitação a sua realização exclusivamente em
japoneses. O risco de hemorragia subaracnóidea em japoneses é maior que em
outras populações, apesar de a incidência de aneurismas não
rotos ser semelhante. Já o ISUIA incluiu mais de 90% dos pacientes de cor
branca. Ambos os estudos têm uma fraqueza na falta de controle sobre quais
pacientes seriam tratados e por qual método. Esses dois estudos foram
muito importantes na definição da história natural e dos riscos de ruptura dos aneurismas
cerebrais com estratificação de risco de hemorragia por vários fatores.
The International Study ofUnruptured Intracranial Aneurysms Investigators. Unruptured intracranial aneurysms - risk of rupture and risks of surgical intervention. N Engl J Med 1998;339: 1725-33
UCAS Japan Investigators, Morita A, Kirino T, Hashi K, Aoki N, Fukuhara S, et al. The natural course ofunruptured cerebral aneurysms in a Japanese cohort. N Engl J Med 2012; 366: 2474-82.
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